Foi quando o rato já estava para atacar-lhe, rente ao chão, que o cachorro entrou e espantou o bicho. Ela ainda o viu esgueirar-se por um buraco na parede junto ao piso. Ela sabia que aquele lugar não era só dela, mas não compartilharia o seu homem, mesmo que fosse com uma ratazana de esgoto. Com esforço, ela ergueu-o como pode e ofereceu-lhe batatas fritas e frias. Ele comeu devagar enquanto a mirava nos olhos. Ele não lembrava de absolutamente nada que tivesse acontecido antes de estar na calçada, olhando para trás, procurando a porta de onde havia saído. Mesmo assim, inerte que estava, sentiu uma sensação de alívio ao vê-la, que seria impossível expressar, mesmo que tivesse de volta os movimentos e as palavras. Tinha apenas os olhos e deles deixou correr uma lágrima que ela aparou com um beijo. Ela lhe dizia algo, enquanto pegava novamente uma folha de papel e escrevia:
Aqueles sinais embaralhados eram uma ponte que se estendia, além da troca de carícias. O que era três virou a letra E que juntou com a letra A que já descobrira e um pouco mais ele entendeu. A intimidade instalou-se quando seus olhos encontraram o caminho dos lábios e as palavras foram ficando claras, como fica o desejo atrás das pálpebras.
4 comentários:
Eh deliciosamente angustiante acompanhar este conto, Silvio. Pau na maquina!
abrax
RF
CAro Silvio,
Vindo e acompanhando, surpreendente mesmo...
Abçs
O cérebro é um barato mesmo!
É, não da pra tirar o olho da tela.
O restante vc já sabe.
abraços
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