14 agosto 2006

Além do Fim - 10ª parte


[O Homem Invisível, Salvador Dalí]
Foi quando o rato já estava para atacar-lhe, rente ao chão, que o cachorro entrou e espantou o bicho. Ela ainda o viu esgueirar-se por um buraco na parede junto ao piso. Ela sabia que aquele lugar não era só dela, mas não compartilharia o seu homem, mesmo que fosse com uma ratazana de esgoto. Com esforço, ela ergueu-o como pode e ofereceu-lhe batatas fritas e frias. Ele comeu devagar enquanto a mirava nos olhos. Ele não lembrava de absolutamente nada que tivesse acontecido antes de estar na calçada, olhando para trás, procurando a porta de onde havia saído. Mesmo assim, inerte que estava, sentiu uma sensação de alívio ao vê-la, que seria impossível expressar, mesmo que tivesse de volta os movimentos e as palavras. Tinha apenas os olhos e deles deixou correr uma lágrima que ela aparou com um beijo. Ela lhe dizia algo, enquanto pegava novamente uma folha de papel e escrevia:

Aqueles sinais embaralhados eram uma ponte que se estendia, além da troca de carícias. O que era três virou a letra E que juntou com a letra A que já descobrira e um pouco mais ele entendeu. A intimidade instalou-se quando seus olhos encontraram o caminho dos lábios e as palavras foram ficando claras, como fica o desejo atrás das pálpebras.

4 comentários:

Roy Frenkiel disse...

Eh deliciosamente angustiante acompanhar este conto, Silvio. Pau na maquina!

abrax

RF

+ Kazzx + disse...

CAro Silvio,

Vindo e acompanhando, surpreendente mesmo...

Abçs

Kafé Roceiro disse...

O cérebro é um barato mesmo!

Moita disse...

É, não da pra tirar o olho da tela.

O restante vc já sabe.

abraços