25 novembro 2005

Uma Carga Muito Pesada


O brasileiro que nasceu durante os anos 60 em diante, tem nas ferrovias uma imagem ligada a história, tal foi o sucateamento que as políticas pseudo-desenvolvimentistas de JK e do período da ditadura promoveram, praticamente extinguindo as vias férreas. Isso provocou-me uma curiosidade em ler sobre o estabelecimento das ferrovias pelos ingleses.
Existem histórias muito interessantes sobre essa época. Uma delas é que os ingleses construíam as estradas de ferro com uma infinidade de curvas, porque ganhavam por quilômetro construído. Em Salvador do Sul, RS, há uma estrada desativada que faz curvas de vários quilômetros e depois passa a poucos metros do ponto anterior.
Se não me falha a matemática, o que falta num lado da equação deve sobrar do outro. Ao reter em torno de seis por cento do que o governo arrecada para custear a dívida pública, me faz lembrar dos antigos ingleses implantando longas ferrovias curvilíneas por todo Brasil e ajudando a cavar o poço da dívida externa.
Ai, ai, ai... não é de hoje que contribuímos para a corte. Antes na matriz, agora para a corte filial (tenho em mente que os EUA não passam da transferência de matriz do império anglo-saxão).
Os tributos dirigidos à corte serviam para custear a dívida com o império anglo-saxão, cuja matriz era na Inglaterra. Desde a independência americana até às grandes guerras mundias do século passado, a matriz imperial foi se transferindo pelo oceano atlântico e instalou-se no EUA. Tudo aquilo que aprendemos, as glórias da independência americana são farsas históricas. O Império ainda é o mesmo, só mudou de continente. O poderio anglo-saxão continua a sugar as colônias bananeiras, se não em estradas de ferro com suas curvas espirais e helicoidais, mas por financiamentos oficiosos de FMI e BIRD que emprestam às nações satélites e mantém o status quo da civilização ocidental.
O trem imaginário da carga de dívida e impostos é de fato uma realidade que pesa a todos, sugando da educação, das moradias e da saúde, as últimas gotas de suor de um povo que vem sendo usurpado há séculos por impérios estrangeiros.

11 novembro 2005

Preciso Parar

Estação São Leopoldo - Museu do trem

Quando cheguei a Catende percebi que chegara à estação de partida. Sim, isto mesmo! Respirar, concentrar e... control + alt + del! Preciso retomar meus livros, rever filhos, folhar álbuns e visitar pessoas que já se foram para onde esse trem não vai. Vou chorar, rir, dizer que voltei. Tenho que tomar meu trem, tomar ar, tomar chimarrão. Preciso parar de não querer parar. Preciso parar de não me deixar parar.

Antes de tomar o trem, vou mergulhar na mata, buscar um tempo que não foi meu, vou andar por Catende, seguir o luminoso do Cine Teatro Diamante. Vou entrar, escolher a poltrona do centro e relaxar. Costumo sentir saudades do que não vivi e disso também preciso parar.

Comigo levo só um bloco de anotações e, para não deixar passar o que ficar para trás, levo minha máquina digital de cinco megapixels só para trazer meu passado de fotos em preto e branco de volta à vida.

O trem que me leva, não tem campainha, não tem companhia, não tem fiscal, mas preciso partir. Vou deixar para trás meus emails, meus CDs, meus blogs favoritos e vou descer na
Estação Rio dos Sinos. Lá, vou reencontrar minhas pegadas, como um caçador perdido na selva andando em círculos.
Ao passar em São Leopoldo, esse trem trará pelos trilhos os gritos de crianças me oferecendo pastéis, rapaduras e gasosas de um tempo distante em fotos em tons de sépia. Vou encontrar aqueles velhos manuscritos que deixei em alguma gaveta nos lugares que cresci. Vou sentar nas sombras de cinamomos e, quem sabe, encontrar aquela amiga de infância, pular sapata, cantar uma marchinha antiga de Carnaval.

Tenho passagem marcada na vida, na estação de Catende, rumo ao sul, a Porto Alegre, Canoas, São Leopoldo, onde esse trem me levar. Depois, com a mala cheia de amor, volto a Catende, como tapioca, entro no teatro e volto a minha estação, pressiono power e me conecto com tudo o que me fez parar.

Texto em homenagem à Santa madrinha desse blog, porque onde havia Pedra encontrei Flores