26 setembro 2007

No ar: planos - Capítulo 5


imagem daqui - O mesmo sol que iluminou o vôo 3054 da TAM antes de espatifar-se em São Paulo
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O sol que se punha era uma chama que inflamava o céu e atravessava a nave onipotente. Ficava por trás de Itamar e Joelma abrigou-se em sua sombra para ouvi-lo falar. Ele falava de planos que tinha para o futuro, mas ela só queria saber que planos ele teria para essa noite. O sol teimava em fugir de trás de seu rosto e inundava seus olhos atentos. Ela não ousava interromper sua voz e flanava seus pensamentos junto aos dele num delírio que ainda não conhecera.
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Itamar sentiu a presença imponente do sol que se escondia no horizonte e entrepôs-se entre ela e o astro, sem deixar de vez por outra deixá-lo inundar os olhos dela para vê-los brilhar em seu verde esmeralda, feito o mar nos trópicos. Falava das férias que gostaria de passar no Nordeste do país e preferiu não confessar que já os imaginava juntos andando na areia branca e comparando a cor do mar com seu olhar. Então diria que planejara o passeio naquele entardecer entre Porto Alegre e São Paulo quando se conheceram. Conteve-se para não beijá-la de surpresa; esperava mais que um instante. Dela queria todos, até o último minuto de sua vida.

17 setembro 2007

No ar: crepúsculo - Capítulo 4


imagem daqui - Porto Alegre, de onde partiu o vôo 3054, da TAM.


Sentada na poltrona rente à janela, pela primeira vez ela não temeu a decolagem. Seus olhos estavam hipnotizados nos dele. Via tudo: o faiscar em sua direção, o dilatar das pupilas quando ele sorria, a barba cerrada que delatava uma manhã apressada, a forma como gesticulava tornando mais encantadora cada passagem que lhe contava. Do alto de Porto Alegre, ainda deu uma última olhada para o chão onde com certeza, neste instante, sua pequena menina olhava para céu e apontava: "dorme com Deus, mamãe!".



Estava ao lado dela já se passavam trinta minutos. Na pequena escotilha o céu sumia e dava lugar a um horizonte em pôr de sol. Falou-lhe que fora a primeira coisa que lhe contaram sobre Porto Alegre quando veio parar ali. O rio derretendo o sol, queimando o céu em tonalidades rosadas, vermelhas, nas mais lindas que é possível anoitecer. Os olhos dela guardavam lágrimas que não eram tristes: era o brilho líquido de quem presta atenção e devolve em sorrisos e comentários inteligentes. Chegou a querer segurar sua mão, para sentir se a textura era exatamente como parecia que pudesse ser. Enquanto ela virou para espiar a cidade e falou-lhe da filha, quis tê-la para sempre perto dele ao adormecer.