30 maio 2007

Isso já é outra história - 2



Desafiando a história escrita esse blog resolveu reescrevê-la.
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Tal pai, tal filho

Todos sabem que o presidente americano é um comediante frustrado. O que ele não sabe é que traz em seus gens a comédia. Durante a lua-de-mel de seus pais, no Rio de Janeiro, sua mãe teve um affair com um comediante brasileiro e levou consigo o futuro senhor da guerra. Mas isso já é outra história...

29 maio 2007

Vídeo & Verso

Nasce um novo blog de poesia em movimento.

Confira:

Vídeo & Verso

Enfrentando a inquietante paralisia que ocupa o verso da poesia

24 maio 2007

Isso já é outra história - 1

Desafiando a história escrita esse blog resolveu reescrevê-la.


Che Guevara não morreu


O argentino Che Guevara, acometido por uma diarréia, não pode ir para o interior da Bolívia e mandou um amigo cubano em seu lugar. Morto em emboscada, manchete no mundo todo, a foto do sósia foi vista pelo amigo Che, que repousava num hospital em La Paz sob codinome de Odair José. Após o primeiro choque, resolveu aproveitar a chance que a história lhe deu e fugiu para o Brasil, onde tornou-se cantor brega e fez sucesso com a música “Pare de tomar a pílula”. Mas isso já é outra história...

14 maio 2007

Carolina quer falar


imagem daqui

- Oswaldo, és tu?

- Sim, Carolina, sou eu...

- Que saudades, Oswaldo...

- Não fales muito, descanses.

- Preciso falar, Oswaldo. Tenho tanto a te dizer.

- Mas tu precisas repousar.

- Oswaldo, sempre te amei.

- Carolina...

- Não fales nada, Oswaldo. Eu não queria ter te deixado...

- Mas...

- Naquela noite, ao final do baile, quando meu pai nos pegou...

- Carolina...

- Preciso falar, por favor. Naquela noite eu não devia ter aceitado que ele me mandasse para tão longe. Eu fui sofrendo, pensando em ti o tempo todo...

- Mas Carolina, querida...

- Nada mais na minha vida importou. Eu queria ter voltado, te abraçado, ter tido filhos contigo, viver minha vida toda ao teu lado...

- Carolina, tu voltaste... Nós casamos, tivemos filhos, netos, até dois bisnetos, que levam teu nome e o meu.

- Não pode ser...

- Assim foi.

- Não lembro de nada, só que te amava muito.

- Assim ainda é, querida. Nós vivemos juntos todos esses anos.

- É?

- Sim, querida.

- E o Duarte?

- Que Duarte?

- Do seu Timóteo, da padaria. Eu não casei com ele?

- Com o prefeito?

- Não sei, só lembro de estar com ele no depósito.

- Carolina?

- Noites e noites... Será que sonhei?

- Ele está ali na sala, esperando para te ver...
- Ah, o Duarte...
- Mas Carolina, e eu? E nosso amor?
- Nosso amor deve ter sido maravilhoso, querido, mas o Duarte... Ai, ai, com Duarte era uma coisa de carne, entende?... Oswaldo, onde eu estive?

- Faz anos que tu tens estado ausente, sem reconhecer ninguém. Pelo visto agora estás te lembrando mais do que na vida toda lembrou de mim!

- E a Selma?

- Tua prima?

- Sim. Tenho saudades dela...

- Ela morreu há mais de trinta anos.

- É? Que pena... Mas nós aproveitamos...

- Garanto que até ela sabia... Tua maior amiga... Meu Deus, Carolina... Eu era corno por tanto tempo?

- Dormíamos junto tantas vezes...
- O quê? Com a Selma?... Na infância, suponho...

- Que nada! A gente se beijava, experimentava tudo... Lembro e me arrepio até agora... Aquelas tardes na praia, os cursos que inventávamos... Ah, a viagem à Europa que tu nos deste...

- O que? Carolina, tu não estás bem. Acho que eu também não estou muito bem. Preciso de ar... E tu descanses, Carolina, tu estás tendo alucinações. Deves estar cansada demais...

- Meu corpo pode estar se indo, mas de repente tudo está claro como se fosse um filme em tecnicolor...

- De ficção, espero.

- Não, Oswaldo...

- Mas a gente viveu juntos tanto tempo e eu nunca pensei que...

- Oswaldo, querido. Todos temos nossos segredos. Tu mesmo...

- Eu o quê?

- Sim, eu te vi e sofri muito.

- Como assim?

- Com a Dulce.

- Tua irmã?
- Sim. E madrinha de nossa filha mais velha... Ah, e com a Dorotéia.

- A empregada... Como tu sabias e nunca me falou nada. Por quê?

- Oswaldo, Oswaldo... Não me peças respostas agora. E teve mais...

- Me perdoe, me perdoe!

- Já te perdoei a tempo e da melhor forma possível.

- Carolina, tu não queres descansar?

- Lembras do Adolfo?

- Que Adolfo?

- O Adolfinho.

- O filho de minha irmã, meu afilhado?

- Sim.

- Não me diga que...

- Aham.

- Carolina??

- Ah, Oswaldo, nós fomos tão felizes...

- Carolina, tu vais descansar agora, por bem ou por mal!

08 maio 2007

Noite

publicação original: 17/05/2006
[Starry Night - Vincent van Gogh]
Ela fechou os olhos e despertou. Ao seu lado, deitado em decúbito, aquele homem negro, de contornos definidos e o rosto virado para ela, deixando-lhe a pele aveludada ao seu alcance. Seu corpo exalava o odor do amor recente e facilmente lhe convidaria para lamber-lhe inteira, depois que um sorriso alvo e voz em sussurro lhe dissesse o quanto lhe amava.
Abriu os olhos e adormeceu. Ao seu lado, ele deitado com sua barriga peluda para cima, que sobrepunha à cueca escondida entre suas dobras. Seu corpo exalava um bife acebolado, um croquete da padaria, uma cachaça há muito tempo envelhecendo no seu próprio barril de cintura. Entre um ronco e outro, gemia como se lhe convidasse a vomitar.
Levantou-se da cama, acendeu um cigarro e foi à janela procurar um espaço para jogar-se.
Ele cerrou seus olhos e acordou-se. Ao seu lado, respirando suave, reinava estendida em seus lençóis aquela mulher de cor de canela, de seios firmes e carnes bem dispostas. Assim, deitada de lado, não disfarçava a curva do desejo que se estendia entre sua cintura e seu quadril, descendo pela coxa, deixando a vista seu tufo de veludo que parecia pulsar de desejo. Tirar-lhe desse encanto seria somente para trazer-lhe o gozo num corpo que vibrava ao simples acariciar de sua pele. Ansiou por vê-la sorrir e sem abrir os olhos, debruçar os lábios contras os seus.
Ergueu as pálpebras e desvaneceu-se perante a vista trágica daquele corpo branco, quase azulado de uma pele que mal cobria os ossos que agonizavam perante seu aroma de cigarro recém fumado. A carne murcha, pele vincada e um cenho sisudo, mesmo adormecido, poderiam fazer-lhe morrer de susto a qualquer madrugada. Entre um resmungar e outro, tossia num tom grave que só os fumantes moribundos atingem.
Saiu da cama, buscou o chinelo, foi até a cozinha e tomou um trago, na esperança de morrer engasgado.
A noite confunde o sonho, mas não afugenta o medo do escuro que habita quem entrega a vida ao pesadelo.