Um dia, minha filha acordou-se assustada. Havia tido um pesadelo daqueles, assustadoramente real. Porém, no final, eis que aparece uma galinha verde que lhe confirma tratar-se de uma ilusão.
Quero sonhar com galinhas verdes! Terei o direito de ter todos os pesadelos e acordar-me sorrindo.
Pesadelo 1:
Converso com Lula...
- Lula, você sabia de tudo isso que o Valério está afirmando?
- Sim!
- Mas por que tu deixaste acontecer?
- Era o único jeito de me eleger!
- Mas quem te disse?
- O Duda Mendonça!
- É?
- Sim... ele me disse também que tenho que falar de ladinho pra ficar mais simpático.
- Sim, mas isso não é tão grave... Mais alguém sabia?
- Sim, todos da executiva do PT, mas a gente escolheu o Delúbio pra levar a culpa.
- E ele?
- Prometemos que nada ia acontecer, porque caixa dois não é crime.
- Sim, mas é a ética??
´
Eis que aparece a galinha verde e me acordo sorrindo.
29 dezembro 2005
Sonhos da Galinha Verde - I
contado por SV às 08:14 9 contando encontros
23 dezembro 2005
Diferente
O ser humano não foi feito para ser igual. Na mesma medida em que cria distâncias cósmicas entre raças, credos, culturas e condições sociais, tenta criar um mundo onde tudo o que foge a regra torna-se marginal.
O daltônico, o soro-positivo, o homossexual, o cego, o anão, o down, o surdo, o paraplégico, o hemofílico, o alérgico ao glúten, o muçulmano, o diferente. Nossa sociedade vai segmentando, estratificando seus iguais até encontrar um rótulo ou uma condição que permita a dominação.
E nesse mar de diferenças, apela ao discurso fácil da igualdade para sobrepor-se e liderar àqueles que, a sua ótica, são os diferentes. Mal sabem eles que a riqueza está justamente no que somamos ao próximo, no que nos faz especiais, no que encontramos em alguém além dos nossos olhos, do nosso tato, dos nossos sentidos.
Viva a diferença, viva a completude, viva o que é mais complexo que nossos olhos nos permitem ver!
contado por SV às 07:35 13 contando encontros
16 dezembro 2005
noite de luz
Daqui de tua lixeira, recolho o que te resta, procuro algo que termine o tormento da fome que agride meu corpo e daqueles que lá em casa me esperam de braços abertos e olhos profundos.
Daqui de tua lixeira, onde sou transparente e tu não me vês, vou partir nessa noite de paz, nessa noite feliz para alguns e quem sabe levar um bocado de tua alegria e compartilhar em minha mesa com o meio panetone que aqui encontrei.
E lá na barranca do rio, vou chamar o menino que por lá passa, sem pai e sem amor, perdido entre a cola que lhe disfarça a fome e o desejo contido de ser acolhido para levá-lo a minha casa, sentá-lo junto de nós e celebrarmos nosso Natal em família.
Não terei tantos enfeites nem luzes que lampejam cores brilhantes, mas dividirei meu jantar humilde, quem sabe um pedaço de carne com meu irmão perdido, junto com minha família amada e trarei para junto de nós o verdadeiro espírito dessa noite de luz.
contado por SV às 08:20 6 contando encontros
09 dezembro 2005
Do Efêmero ao Irreversível
Quando tudo o que vemos em manchetes se torna efêmero, quando tudo que é notícia vai para o esquecimento assim que outra notícia surge, quando tudo o que foi tragédia só é revisto na retrospectiva de final de ano, como se tivesse acontecido há muitos anos atrás, pergunto: e o que ficou para trás?
O político corrupto que balançou o país renuncia a seu mandato, tira férias em Miami e aproveita para ir na “laundry” mais próxima e lavar seu dinheiro sujo. Na próxima eleição, volta ímpio e sorridente, colhe seus votos na legião da amnésia e retoma seu lugar no país onde vai ajudar a formular nossas leis que lhe manterão impune.
Quando tudo é efêmero, não podemos nos esquecer da irreversibilidade que está além da filosofia. O falso representante do povo, que rouba e se reelege continuará a fazer das suas, porém os miseráveis que ficaram sem recursos na periferia das grandes cidades ou abandonados em povoados secos e perdidos do nordeste árido, lá morrerão frutos da iniqüidade de um sistema que traz em seu cerne o genocídio tácito. Atrás da efemeridade de suas falcatruas resta a irreversibilidade trágica de um povo esquecido.
Do local, ao mundial, tudo se repete. A grande tsunami no oceano Índico dá lugar ao furacão, que dá lugar ao terremoto que tira tudo do lugar. Na próxima manchete deletaremos de nossa memória a última tragédia para nos emocionarmos com a criança desamparada em mais uma revolta da Natureza e ficará tudo como está ao sul do Equador ou qualquer outro rincão esquecido do planeta.
Passada a primeira tsunami, veio a seguinte: CNN & Cia. inundando o mundo todo com suas ondas de desespero; passados os furacões, lá estava a FOX News e seus asseclas, sacudindo as ondas magnéticas com o desamparo de miseráveis onde nunca se imaginou que pudessem estar; sacudida a Cashmira, muitos souberam que era uma região super-povoada e não apenas mais um tipo de malha cara usada pelas elites. Junto com o trabalho sério e necessário, lá estava a imprensa oportunista a mesclar rostos pardos e tristes com comerciais dos lançamentos mais modernos para combater a flacidez de nossos músculos ou grills ecléticos que separam a gordura de nossos assados.
A natureza continuará a mostrar-se e cada vez com mais força, pois somos mais seres humanos no planeta a cada dia e cada vez a imprensa está mais próxima cumprindo seu papel, porém os danos que ficaram para trás causaram traumas irreversíveis na vida de cada uma das vítimas e não podemos nos esquecer disso.
Mas e o que não é manchete? Podería-se até reverter, com menos recursos que se usa nas guerras, todas as mazelas do mundo subdesenvolvido, porém os que morreram pelo caminho, os que não foram nutridos e agora não pensam e não articulam suas respostas são, todos eles, as vítimas da irreversibilidade que jaz atrás do efêmero.
contado por SV às 08:13 5 contando encontros
01 dezembro 2005
Feeling Literature
Literature is a time machine, something universal, that has the power of transporting us to the past, taking to the future or just holding us in the present.
contado por SV às 21:32 6 contando encontros