24 março 2007

Desce? - 9

Picasso

Do quarto segundo em diante, entre ofensas e desculpas, o grupo tenta estabelecer uma comunicação e descobrir quem está desmaiado entre eles. O rapaz drogado que acabara de sair de um assalto com seu amigo ainda acredita estar em algum lugar entre o inferno e o céu e não dá-se conta da ausência do amigo e muito menos de quem lhe beija; o gordo desempregado tateia o fundo do elevador à procura de sua pasta perdida enquando seu flato desgovernado transborda o tecido de suas calças; a prostituta grita por ajuda; a menina tenta usar a luz do celular para descobrir quem lhe dera um tapa em seu rosto, que com certeza deixaria marcas horríveis na pele recém tratada, mas, em seguida, tenta ligar para uma amiga e contar a loucura que está vivendo; a mulher que rezava ainda sente na mão o membro do garoto, mas não tem idéia de qual dos homens pertence; o office-boy que beijara o bandido por engano, ao sentir os pêlos de barba afasta-se enojado, no mesmo instante que descobre que há alguém lhe segurando por sobre suas calças. Quando todos já sentem a situação crítica que se encontram, escutam uma porta se abrindo mais abaixo e o grito:

- Fiquem quietinhos aí que vocês estão presos. É a polícia!

4 comentários:

Moita disse...

Seus contos, sua narrativa descritiva e literária são perfeitas. Já lhe disse isso.

É só você acreditar.

1 abraço

Santa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Santa disse...

Que belo Picasso ilustrando teu conto!

Bjs

Santa disse...

Como na estética cubista em que a figura é representada com todas as suas partes num mesmo plano, no conto os difrentes personagens se monstram em um mesmo espaço.