09 outubro 2006

A Olho Nu - última parte

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Se hoje saio à rua e me atiro nas ondas da multidão, posso provavelmente ser visto com meus óculos azuis, minha bengala prateada, minha roupa sem combinações. Realmente posso ser visto assim. Mas o que eu vejo? Vejo o cheiro que teima em cruzar por mim, ora perfume, ora odor, ora de nojo, ora de amor. Virei um poeta andarilho, daqueles que arrecadam os aromas e os guardam na mente. Depois que vaguei pela rua, chego em casa e me deito nos lençóis de cetim que ela ajeitou pra mim. De banho tomado, de pele eriçada, fico esperando minha mulher amada, com seus olhos macios, com sua penugem suave nos braços, sua boca macia e quente, que vai me devorar o corpo e navegar na mente, feito barco no oceano das lágrimas, livre de afogar-me de partidas, pronto para naufragar nos gostos que só o corpo dela me dá.

No teu cabelo macio
Sinto o cheiro de chá
Pode ser camomila
Pode ser maracujá
Sinto o cheiro de cio
Que há no teu gosto do mar
Brotando na tua pupila
Oculta no toque macio
Quando tu queres amar

3 comentários:

+ Kazzx + disse...

Caro Silvio,

Um desfecho belo!!!

Abçs e bom final de semana

Anônimo disse...

Lindíssimo, Silvio. Olha, excelente, parabéns!

mixtu disse...

aguardo pelo laboratório