17 outubro 2006

Laboratório Literário - III


Madrugada de 17/10/2006, Rodoviária de Porto Alegre, 14ºC:

Ela espreitou de dentro do banheiro imundo, e viu a velha gorda e cega que estava sentada rente a porta, trocando pedaços pequenos e ásperos de papel higiênico por alguns trocados. Vasculhou no bolso de sua calça e encontrou algumas moedas que seriam inúteis para comprar o cigarro que não saía de sua mente. Ao passar pela mulher, largou suas moedas e pegou duas notas de dois reais. O caso era urgente, não era hora para misericórdias. A velha ainda lhe disse um “Deus lhe pague” mecânico, vazio como palavras ditas ao vento em noite de tempestade.

Na saída da rodoviária, checou na bolsa seus cem reais tomados emprestados do cunhado, que deveria servir para chegar a São Paulo em sua moto de impostos vencidos e tanque pela metade. Na madrugada, quando saía de Porto Alegre, os faróis jogavam flashes sobre a Vila dos Papeleiros, que contrastava com a opulência de uma cidade que lhe negava futuro. Não tinha tempo para saudades, não tinha saudades do tempo em que tentou de tudo para viver, do lugar onde safou-se das drogas e do álcool, mas não conseguiu escapulir das armadilhas que o destino lhe pregava. Era o Rei Midas ao contrário: a Rainha Merda.

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Iniciamos nosso laboratório. Até ontem à noite, fui dormir pensando no cara, na rodoviária. Abro minhas mensagens hoje e vejo que a estória tomou outro rumo, como deveria ser. Dos cinco posts, três pediram por uma mulher. Aeroporto e motocicleta passaram a frente da rodoviária, mas optei pela motocicleta. A noite foi vencendora por três votos.

Deixo as próximas questões:

1. Florianópolis, São Paulo ou retorna Porto Alegre
2. Encontra ele, ela ou fica só
3. Clima romântico, golpe ou atrito de idéias

6 comentários:

Anônimo disse...

Como retorna a Porto Alegre? Ela ta indo pra são Paulo..deixa ela vislumbrar novas paisagens, deixa ela aventurar-se pelo caminho, ela tem muito chão pela frente...

ADOREI o começo, o banheiro, a velha ceda, só DETESTEI TERMINANTEMENTE a última frase, pra mim não precisava, Rainha Merda? Pra que?!(ja critiquei e pronto, hehehe, não leva a mau).

Fala um pouco dela?
Porque ela ta saindo daqui? Vai pra São Paulo em busca de que?
Me parece que ela foge de algo...

"uma cidade que lhe negava futuro"
Ela nasceu aqui ou veio morar aqui em busca de algo? Vei atrás de alguém? ou trazida por alquém? Vai a caça de alguém?

"Não tinha tempo para saudades, não tinha saudades do tempo em que tentou de tudo para viver"
O que seria o "tudo para viver"?

"do lugar onde safou-se das drogas e do álcool"
Drogas? Uma boa aresta pra explorar...mas deixa isto mais pra frente!

"mas não conseguiu escapulir das armadilhas que o destino lhe pregava"
Armadilhas? Então ela foge de algo ou alguém?

Ela é lésbica, uma mulher que age assim, ou é lésbica ou é Jack Brow do filme!

Como ela se veste? O que ela carrega consigo? O que ela não pode deixar pra trás? Qual o seu amuleto?

E a Família dela?
"cem reais tomados emprestados do cunhado", quer dizer que ela tem irmã ou um irmão gay? Me diz que ela roubou os cem reais do cunhado né? e que ela nunca foi com a cara dele também né?! Ela está desesperada?

Credo!! minha cabeça ta estimulada!! Espero os próximos capítulos!

SV disse...

Tônio, são realmente as dúvidas que alimentam o conto e a curiosidade de quem lê.

Como estamos desenvolvendo a estória, nem eu mesmo sei muito sobre ela. Vamos descobrindo juntos.

Alguns comentários sobre o teu comentário:
- Rainha merda é o Rei Midas ao contrário, ou seja, tudo o que toca vira merda, nada dá certo. É um sentimento dela.

- A fuga está lançada. A que, ainda não sabemos.

- Negar o futuro é não ver perspectivas. Pode ser que a culpa seja da cidade ou dela mesma.

- optei por uma ex-alcólatra e ex-toxônoma para fugir do óbvio. Acho que a luta para manter-se lúcido para alguém que não vê perspectivas é muito mais fértil para idéias.

- a orientação sexual poderá surgir numa próxima questão. Interessante proposta!

- vestes: por enquanto só sabemos de uma bolsa, uma calça e um capacete. O resto está sendo construído.

- família: deve ter laços, afinal para sair das drogas é essencial ter alguém dando um suporte emocional. O cunhado pode estar ajudando ou evitando a sua presença; pode ser um ex-amante, um grande amigo quase irmão, ... é uma figura a ser explorada.

Tônio, você respondeu apenas a uma pergunta. Aguardo às demais.

Um abraço,

Sílvio

Caiê disse...

Como sempre, uma escrita que estimula. Digo que ela muda o rumo e mete-se a caminho de Florianopólis. Aí, encontra ele e clima romântico. Explico: mulher tão triste, tão queimada na vida merece algum momento de ternura. Um beijo e podes chamar-me sonhadora que eu aguento! ah ah ah! :)

Ambar disse...

Definitivamente Sao Paulo.
lo encuentra a él.
Ambiente romantico

Un beso grande..., sigo acá!!!

+ Kazzx + disse...

Caro Silvio

Desculpe a falta, mas esta semana está trash, vou acompanhando por aqui e se der dou uns pitacos amanhã, a qualidade do começo do texto está ótima....

Abçs

Anônimo disse...

São Paulo, fica só (acho que se ela encontrar ele vai ficar muito xavão ou se encaminhar a histótia para o final, creio que temos muito a saber dela, das atitudes que ela pode tomar nesta viajem e na interação com as pessoas no caminho) e golpe.