Quis ligar para sua família para comunicar sua decisão e que não deveriam mais ligar para a empresa, porém a senha do telefone de sua mesa acabara de ser bloqueada. Despediu-se um a um e, na porta do grande salão onde as mesas alinhadas como um engradado estavam espalhadas, quis acenar para todos numa despedida. Em vão. Todos já estavam novamente envolvidos em emails, telefonemas, cafezinho ou, alguns, em conversas reservadas sabe-se lá sobre o quê.
Saiu do prédio, disse adeus ao porteiro, que ficou desconfiado da simpatia explícita, tão incomum nas grandes cidades.
Quando estava na rua, a uma quadra do mar, não resistiu e foi até lá. O tempo estava nublado e uma garoa disfarçava o Rio de São Paulo. Não. Hoje não era dia de nostalgias ou depressão. Tinha muito a fazer. Passou numa loja ali perto, comprou mais uma mala para juntar as que já tinha em casa, fechadas. Com a mala vazia, tomou um táxi e foi para seu apartamento. Talvez ainda conseguisse cancelar o contrato de aluguel, haja visto que recém o alugara desde que Lenice lhe deu um ponta-pé na bunda.
Sexta-feira era o vôo. Se fosse antes, melhor. Não tinha mais o que fazer por ali.
-continua-