19 julho 2006

Além do Fim - 1ª parte

Homem Bêbado, Salvador Dalí, 1922


Na saída do bar as luzes dos postes rodavam como se fossem faróis suspensos. O vômito que era uma ameaça velada subiu à garganta e antes que pudesse achar um canto, rompeu-lhe os lábios e atingiu seus pés. O choro veio ao natural e suas lágrimas rolaram pela face, pela barba de uma semana de desleixo. O gosto de fel que invadiu sua boca alojou-se pelas narinas, quase o sufocando.
Conseguiu ainda andar até o poste, que teimava em desviar-se dele. Abraçou-o como faz o menino na perna do pai na multidão. Tentou olhar para cima, ver algo do céu, mas na cidade embriagada as poucas estrelas que se viam eram constantemente cadentes, feito ele.
Sentou-se no meio fio, passou a manga do casaco sujo na boca, na fracassada tentativa de parecer normal. As lágrimas deram lugar a um sorriso letárgico, que acumulava dobras na face, mas não ocultava o vazio de seu olhar.
Quis lembrar-se de como havia chegado ali, virou-se para trás e nem lembrou de que porta havia saído. Talvez uma mulher amada, talvez um filho morto, talvez um emprego perdido, talvez um talvez constante. Se tivesse bebido para esquecer, tinha atingido o objetivo, quiçá um pouco além.
Do bolso interno, sacou uma pequena garrafa, elegante, porém traiçoeira. O pouco que havia era de um uísque, ou cachaça, ou absinto. Naquele estágio, tudo tinha o mesmo gosto e o mesmo efeito anestésico.
Com a coragem que renasce no gole levantou-se para cruzar a rua e atingir a outra porta com um luminoso de Coca-cola. O automóvel não tomou nota da licença que o ébrio dá para salvaguardar os embriagados e jogou-o à frente do bar de boca no asfalto. O cheiro de álcool combustível que emanava do carro talvez fosse um atenuante para seu destino.

8 comentários:

EDUARDO OLIVEIRA FREIRE disse...

Narrativa densa e bem elaborada.
http://dudu.oliva.blog.uol.com.br

Anônimo disse...

Olá, Sílvio! Obrigada por seu comentário. Foi legal saber um pouco de vc. Gostei. Qto à sua série "Atrás de seus olhos", eu a li inteira e gostei muito. Só que não consegui abrir nenhuma das janelas de comments. Está mto difícil entrar aqui, aliás. Mas deixei um comentário no "Album - 1 parte". E vc até respondeu!
Bom, qto a este post, achei denso, trágico, inquietante, e sem dúvida mto bom. Aliás, sua estilo é inconfundível: trata o trágico com uma intimidade impressionante. Coisa de mestre, meu amigo!
Beijos de quem o admira de verdade.

Mariana Sanchez disse...

a culpa quase sempre é dos talvez-constantes..
boa história!
abraço

Lata Mágica Recife disse...

Oi Silvio,
Feliz dia do Amigo!!
Primeiramente agradecemos pela visita ao nosso blog.
E pedimos desculpas por não visitá-lo com mais freqüência, pois nossa Internet e discada e só podemos acessar na madrugada ou nos fins de semanas. Convidamos você para mais uma nova mostra em nosso blog espero que goste aguardamos a sua visita. Agradecemos sua atenção e carinho ao nosso trabalho experimental. Um forte abraço dos amigos da Lata Mágica recife.
Willam & Odilene

Roy Frenkiel disse...

Ola Silvio! Eu tb sou frequentador assiduo daqui, e sempre q tenho oq dizer, digo. Gosto muito de sua presen'ca la em casa ;-)

Ainda veremos aonde o texto chega... :-)

abrax

RF

Al Berto disse...

Olá Silvio:

Mais uma vez gostei da visita.
Bom artigo.

Um abraço,

Anônimo disse...

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Anônimo disse...

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