24 novembro 2006

Parapeito - VII


Ainda com o echarpe no pescoço e o velho hobby que estava mais à mão foi atender a porta na expectativa que suas fantasias deixaram repousar pelo apartamento. Adelaide e Marialva, duas de suas colegas e amigas, vieram buscá-la para a caminhada que combinaram à saída do laboratório, quando sua mente já estava noutro lugar. Olharam de cima a baixo e perguntaram onde ela pretendia caminhar naqueles trajes. Ela tentou dissimular uma dor de cabeça que não combinava com o enfeite rosa choque no pescoço e com a mão na testa utilizou-se da surrada desculpa da dor de cabeça. As amigas, socadas em suas malhas justas, desejaram melhoras, entreolharam-se e partiram.
Marieta voltou e procurou pela luneta, sua única platéia na performance interrompida. Não estava mais lá. Antes de sentar-se à janela, apanhou seu binóculo e observou os dois carros enfileirados à entrada do motel, ambos com apenas uma passageira cada. Do ponto em que estava viu que elas acenavam entre si e Marieta não resistiu e sentou-se no banco da frente do segundo carro, ainda de hobby e echarpe. Foram para a suíte de luxe, que possuía lugar para dois carros. As duas mulheres lindas e perfumadas a despiram na garagem, mantendo apenas o seu ornamento rosa que enrolaram no seu corpo e a levaram abraçadas para o quarto. Lá, feito dançarina de boate, estenderam-no para que ela se desenrolasse sensualmente e terminasse por cair sobre o corpo de uma delas, a mulata. Com os olhos fechados e rindo à toa, deixou-se conduzir pelas suas novas amigas, que vasculharam suas curvas e seus recantos escondidos, trazendo sensações que nunca sentiu com outros homens de suas fantasias. Enquanto a mulata percorria seu corpo com sua língua, deixava os seios volumosos e firmes deslizarem delicadamente pela sua pele. A loira, de cabelo solto, subia pelas suas pernas e afundava-se entre elas, fazendo sentir aquela língua longa e ágil naufragando em suas entranhas. O binóculo soltou-se de sua mão e ficou suspenso no parapeito, fazendo-a esticar-se para fora da janela para recuperar as lentes de seus desejos. Mal percebeu que tinha o corpo semi-nu e que a luneta voltara à janela.

5 comentários:

Anônimo disse...

depois de ler ( e reler e comentar) acho uma certa graça a imaginação que oferece a Marieta, ou seria melhor chamar-lhe marionete?
parabens pela forma como escreve e descreve...
Até... ao proximo e se não for antes... um bom fim de semana :)
deixo um sorriso com abraço :)

Anônimo disse...

Um conto é um universo ítimo do autor.A estréia do meu foi ontem.Sei que vamos nos encontrar masi veze.
Bons contos e encontros

Anônimo disse...

Sabe, Sílvio, não sei se gosto da Marieta. Ela troca vida por fantasia. Até quando conseguirá? Talvez o "da luneta" seja a salvação dela. Permita-lhe isto, por favor!
Então, você está se acostumando com a Lu...rss. Fiquei imaginando o que pensaria qdo lhe enviei o comentário. Esta sou eu, ainda que ser uma dalila tenha sido bom por uns tempos. Ela continua com seus contos, mas sem o compromisso de ter que seguir um tema rígido como em Plenos Pecados. Era cansativo. Criar situações pecaminosas todos os dias é chatíssimo. Nas esquinas cabe de tudo, né não? Desde coisas amenas até papos-cabeça. E ilícitos tb (pra não perder o hábito... :-)
Beijos

Rosario Andrade disse...

Bom dia Silvio!
Quanto de nós é sonho e nuvem, e quanto se arrasta pela realidade? Sonhar também é viver...
bjico ancho

Anônimo disse...

Silvio, esse texto eh um TESAO, literalmente...

Reacao em quinzena nova, hem?

Abrax

RF