17 novembro 2006

Parapeito - V



O binóculo foi presente de seu amigo por ter ido junto à parada gay. Disse-lhe que gostava de olhar a paisagem e herdou a relíquia rosa. No fim de tarde abafado, onde nem os pássaros se animavam a cantar, ela suava em sua janela com o novo equipamento em sua mão. Podia ver detalhes daqueles que se aproximavam da entrada do motel como nunca teria imaginado antes.

Marieta observou o homem cabeludo, de bigode e costeletas com barba por fazer, aparentando trinta e poucos anos. Para sua surpresa ele estava sozinho no carro. Baixou o binóculo e viu escrito no pequeno Fiat Uno: "Desentupidora Talimpo". Já estava buscando outro carro, quando sua mente vou de si e despiu-se para esperar o serviço no quarto. Ele entrou com seu macacão com ferramentas penduradas, aberto até quase a cintura, deixando a mostra a pele bronzeada forrada de densos pêlos negros. Marieta, deitada na cama redonda, pediu que lhe mostrasse os instrumentos e para o que servia, ao que ele foi generoso e prestativo. Depois da chave inglesa, ela quis saber o que mais ele trouxera dentro do macacão, que marcava por fora da roupa. Ele desafiou sua curiosidade e pediu que ela descobrisse por si, tateando o volume. Ela chegou mais perto e pediu para espiar para dentro da roupa no mesmo instante em que a mesma luz do dia anterior ofuscou-lhe os olhos e derrubou-lhe das nuvens. Procurou pelo binóculo que pendia em seu pescoço suspenso por uma fita de cetim prateada, do jeito que ganhou de seu amigo e buscou identificar de onde vinha o raio de luz, no prédio quase em frente, ao lado do motel. Descobriu uma luneta em sua direção.

6 comentários:

Anônimo disse...

Surpreendente desfecho.
Que bom.....
vou esperar mais.

Anônimo disse...

Ai, Sílvio, não vou mais falar sobre o mérito de seus contos. Já disse várias vezes que eles são ótimos. O que quero dizer é que vc é um escritor malvado. Pq a Marieta tinha que cair das nuvens? Um mecânico desses... e vc não permite que a pobre saiba como é a ferramenta. Sabe qual foi a sensação que tive? A de um doce que se vê bem de perto, sente-se o cheiro, fica-se com a boca cheia d'água e... vem alguém e rouba.
Já no seu conto anterior, felizmente Marieta acordou... argh.
Beijos

Anônimo disse...

Esqueci de lhe dizer que este seus contos PARAPEITO me lembram "Carolina", do Chico Buarque: "Lá fora, amor, uma rosa morreu, uma festa acabou, nosso barco partiu... Eu bem que mostrei a ela, o tempo passou na janela e só Carolina não viu".
A sensação que me dá é a mesma.
Bjs

Moita disse...

Depois do Binóculo, Marieta vai deitar e rolar.

Genial esses seua escritos bem como o comentária lá na Moita.

Abraços

Kalinka disse...

PARABÉNS
gostei muito de ler seus contos.

Felicidades.
encontrei muito talento.

Bom início de semana.

Anônimo disse...

Hummm... como se diz (por cá)... um dia da caça o outro do caçador... continuando :)