O binóculo foi presente de seu amigo por ter ido junto à parada gay. Disse-lhe que gostava de olhar a paisagem e herdou a relíquia rosa. No fim de tarde abafado, onde nem os pássaros se animavam a cantar, ela suava em sua janela com o novo equipamento em sua mão. Podia ver detalhes daqueles que se aproximavam da entrada do motel como nunca teria imaginado antes.
Marieta observou o homem cabeludo, de bigode e costeletas com barba por fazer, aparentando trinta e poucos anos. Para sua surpresa ele estava sozinho no carro. Baixou o binóculo e viu escrito no pequeno Fiat Uno: "Desentupidora Talimpo". Já estava buscando outro carro, quando sua mente vou de si e despiu-se para esperar o serviço no quarto. Ele entrou com seu macacão com ferramentas penduradas, aberto até quase a cintura, deixando a mostra a pele bronzeada forrada de densos pêlos negros. Marieta, deitada na cama redonda, pediu que lhe mostrasse os instrumentos e para o que servia, ao que ele foi generoso e prestativo. Depois da chave inglesa, ela quis saber o que mais ele trouxera dentro do macacão, que marcava por fora da roupa. Ele desafiou sua curiosidade e pediu que ela descobrisse por si, tateando o volume. Ela chegou mais perto e pediu para espiar para dentro da roupa no mesmo instante em que a mesma luz do dia anterior ofuscou-lhe os olhos e derrubou-lhe das nuvens. Procurou pelo binóculo que pendia em seu pescoço suspenso por uma fita de cetim prateada, do jeito que ganhou de seu amigo e buscou identificar de onde vinha o raio de luz, no prédio quase em frente, ao lado do motel. Descobriu uma luneta em sua direção.
6 comentários:
Surpreendente desfecho.
Que bom.....
vou esperar mais.
Ai, Sílvio, não vou mais falar sobre o mérito de seus contos. Já disse várias vezes que eles são ótimos. O que quero dizer é que vc é um escritor malvado. Pq a Marieta tinha que cair das nuvens? Um mecânico desses... e vc não permite que a pobre saiba como é a ferramenta. Sabe qual foi a sensação que tive? A de um doce que se vê bem de perto, sente-se o cheiro, fica-se com a boca cheia d'água e... vem alguém e rouba.
Já no seu conto anterior, felizmente Marieta acordou... argh.
Beijos
Esqueci de lhe dizer que este seus contos PARAPEITO me lembram "Carolina", do Chico Buarque: "Lá fora, amor, uma rosa morreu, uma festa acabou, nosso barco partiu... Eu bem que mostrei a ela, o tempo passou na janela e só Carolina não viu".
A sensação que me dá é a mesma.
Bjs
Depois do Binóculo, Marieta vai deitar e rolar.
Genial esses seua escritos bem como o comentária lá na Moita.
Abraços
PARABÉNS
gostei muito de ler seus contos.
Felicidades.
encontrei muito talento.
Bom início de semana.
Hummm... como se diz (por cá)... um dia da caça o outro do caçador... continuando :)
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