Eulália. Assim me chamo. Sou viúva há dez anos e minha diversão hoje em dia é estar com minhas amigas. Reunimo-nos no shopping center, tomamos um chá com torta uma vez por semana, geralmente em domingos. Ali, entre lembranças e sorrisos planejamos alguma ação social que nos mantém vivas, além de ajudar quem mais precisa.
Ali está meu neto, Diogo. Menino educadíssimo, que vi crescer sem pai e com minha filha se redobrando em carinhos. Diogo tem esse amigo, Rogério, Rodrigues, sei lá.. Não tenho certeza... Minha memória já não é mais a mesma. Ele sempre fala muito desse amigo. São inseparáveis. Amizades assim, são raras.
Eu e as meninas estávamos, na semana retrasada planejando um teatro na periferia, onde trabalharíamos com alguns jovens. Eu faria um papel de avó, obviamente, mas angariaríamos alguns trocados para comprar cadernos para as crianças. Porém, por uma fatalidade, a minha estimada Josefina faleceu subitamente e tivemos que cancelar. Hoje é a primeira vez que nos reunimos sem ela. A Antônia está inconsolável, mas na nossa idade essas perdas são freqüentes. Custa-nos acreditar que logo, logo todas nós iremos partir dessa vida. A cada amiga que morre, sem uma palavra nos entreolhamos para tentar imaginar quem será a próxima. Raramente acertamos.
Olha lá, o triste homem, do mesmo jeito carrancudo de sempre. Nunca vi esse coitado sorrir. Lembro dele menino do mesmo jeito, num canto qualquer da pracinha de brinquedos. Nasceu triste, vai morrer triste. O que será que se passa naquela cabeça? Sempre o cumprimento, pergunto do tempo e ele mal responde bom dia, boa tarde, boa noite. A única vez que trocou uma palavra comigo foi quando perguntei que filme estava passando e ele disse: “Tootsie”. Só isso: “Tootsie”. Embora tenha ficado em dúvida se era tosse ou o nome do filme, fui assistir. Gostei demais, principalmente porque tenho uma artista reservada no fundo de minha alma sempre pronta para subir num palco.
É bom ver famílias nesse lugar. Crianças com seus pais, casais, moças bonitas. Aquela mulher de vermelho deve ser artista. Ah, como eu gostaria de estar em seu lugar. Jovem, bonita, sorridente, com corpo esguio! E como se veste bem, parece uma atriz. Linda e simpática com todos.
Apesar de o dia ser triste para mim e para minhas amigas, não consigo ser outra pessoa. Sou assim, de bem com a vida e vejo em todos neste mundo pessoas boas e felizes, mesmo o coitado... acho que se chama Robin, Batman... sei lá... bem, até ele deve ter seus prazeres. Do que será que ele gosta?
A menina da faxina está demorando em limpar a mesa. Lá está ela, limpando refrigerante na mesa do Rodrigo. Vou acenar para ela.
Que menino bonito aquele ali, bem arrumado, sorrindo com seu pai. Gostaria de saber das coisas que ele tem para contar. Faz tempo que não tenho crianças por perto e disso sinto falta. O tempo tem sido generoso comigo, mas falta crianças. Acho que sou uma criança no corpo de uma velha. Nem tão velha, nem tão velha...
Ali está meu neto, Diogo. Menino educadíssimo, que vi crescer sem pai e com minha filha se redobrando em carinhos. Diogo tem esse amigo, Rogério, Rodrigues, sei lá.. Não tenho certeza... Minha memória já não é mais a mesma. Ele sempre fala muito desse amigo. São inseparáveis. Amizades assim, são raras.
Eu e as meninas estávamos, na semana retrasada planejando um teatro na periferia, onde trabalharíamos com alguns jovens. Eu faria um papel de avó, obviamente, mas angariaríamos alguns trocados para comprar cadernos para as crianças. Porém, por uma fatalidade, a minha estimada Josefina faleceu subitamente e tivemos que cancelar. Hoje é a primeira vez que nos reunimos sem ela. A Antônia está inconsolável, mas na nossa idade essas perdas são freqüentes. Custa-nos acreditar que logo, logo todas nós iremos partir dessa vida. A cada amiga que morre, sem uma palavra nos entreolhamos para tentar imaginar quem será a próxima. Raramente acertamos.
Olha lá, o triste homem, do mesmo jeito carrancudo de sempre. Nunca vi esse coitado sorrir. Lembro dele menino do mesmo jeito, num canto qualquer da pracinha de brinquedos. Nasceu triste, vai morrer triste. O que será que se passa naquela cabeça? Sempre o cumprimento, pergunto do tempo e ele mal responde bom dia, boa tarde, boa noite. A única vez que trocou uma palavra comigo foi quando perguntei que filme estava passando e ele disse: “Tootsie”. Só isso: “Tootsie”. Embora tenha ficado em dúvida se era tosse ou o nome do filme, fui assistir. Gostei demais, principalmente porque tenho uma artista reservada no fundo de minha alma sempre pronta para subir num palco.
É bom ver famílias nesse lugar. Crianças com seus pais, casais, moças bonitas. Aquela mulher de vermelho deve ser artista. Ah, como eu gostaria de estar em seu lugar. Jovem, bonita, sorridente, com corpo esguio! E como se veste bem, parece uma atriz. Linda e simpática com todos.
Apesar de o dia ser triste para mim e para minhas amigas, não consigo ser outra pessoa. Sou assim, de bem com a vida e vejo em todos neste mundo pessoas boas e felizes, mesmo o coitado... acho que se chama Robin, Batman... sei lá... bem, até ele deve ter seus prazeres. Do que será que ele gosta?
A menina da faxina está demorando em limpar a mesa. Lá está ela, limpando refrigerante na mesa do Rodrigo. Vou acenar para ela.
Que menino bonito aquele ali, bem arrumado, sorrindo com seu pai. Gostaria de saber das coisas que ele tem para contar. Faz tempo que não tenho crianças por perto e disso sinto falta. O tempo tem sido generoso comigo, mas falta crianças. Acho que sou uma criança no corpo de uma velha. Nem tão velha, nem tão velha...
3 comentários:
Muito interessante esse rodopio de olhares entre os personagens dos diversos contos. Parabéns!
Dificil nao acompanhar esta brilhante obra literaria.
Abrax
RF
Caro Silvio,
Meu caro, fica rudundante comentar, perfeito, não sei se exagero, mas me lembra um dos meus filmes prediletos (apesar do Tom Cruise), "Magnolia" tem todo este cruzamento de histórias.
Abçs
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