12 dezembro 2006

Parapeito - X

A medida que a escada se movimentava com a subida de alguém, ela esperava que fosse um bombeiro de rosto rude e corpulento. Contra o néon do Motel Amor Clandestino surgiu a cabeça de alguém que ficava com o rosto escondido pela luz que o iluminava por trás. O luminoso, como se colocado ali de propósito, estava parcialmente oculto deixando ler apenas "amor", seguido pela figura oculta e pela palavra dividida "...destino". Marieta jurava que ouvia uma música vindo de seu apartamento naquelas frações de segundo que precediam o resto de sua vida. Ele largou sobre a marquise uma câmera fotográfica com zoom, a que logo Marieta identificou como sendo a luneta que vira já há algumas vezes. Ele perguntou se ela estava bem ao que ela escutou em sua voz máscula e segura que queria saber como ela estava, que se preocupava com ela, que ela não se importaria de ouvir no resto das manhãs que viriam, e ela respondeu um lacônico sim. Ele falou que percebeu o que havia acontecido. Sim, ele se importava com ela. Ela tentou falar de um acidente, enquanto escondia seu binóculo às costas. Ele estendeu-lhe a mão e ela já voava com ele, feito um filme antigo de super-homem. Ela levantou-se, ajeitou como pode o seu hobby e mostrou a janela trancada, talvez você queira entrar comigo e deitar-se em minha cama... Ele chegou junto a janela, espalmou a mão enorme no vidro e o ergueu até poder colocar a outra pela fresta e terminar de levantá-lo. Não, ela não queria mais sair dali, queria ficar mais tempo com ele, abraçá-lo, quem sabe fazer algumas fotos com sua câmera enorme. Ele entrou no apartamento e ajudou-a a subir. Falou-lhe de que a conheceu fotografando o pôr de sol e os pássaros urbanos. Ela quis calar sua boca com um beijo e ele falou de tê-la visto várias vezes e se aproximou dela. Marieta já precisou imaginar mais nada.

Nenhum comentário: