Trata do ébrio político que 2005 nos trouxe, transformando um sonho num pesadelo, com ardil típico das ilusões que passam da utopia ao desencanto. Convido-os a beber desse cálice, porém sem calar-se, renunciando à lucidez.
Esperança & Embriaguez
Hoje vou beber até tornar-me o mais torpe dos mortais. Vou embriagar-me da verdade que zoa entre as linhas dos discursos hediondos em palanques de barro, onde adjetivos de políticos zombam de minha inteligência, camuflando seus substantivos empedernidos. Por fim, vou atacar seus verbos que desviam de seus objetivos dolosos, corrompendo a estrutura moral com revelações incestuosas à sombra de inaudíveis clamores por ética e retidão.
Vou entornar um vinho tinto e seco, como as verdades que são contidas. Só vou calar meus pensamentos após o último cálice e então vou naufragar num sonho etílico que vai me afastar das frases utópicas e de um país idílico que sonhei possível. Sim, vou sorver cada gole como se os fatos fossem líquidos e não gasosos como se têm mostrado aos nossos sentidos. Vou ingerir todos os graus que o álcool me permitir para esquecer o que sinto: absinto de ilusões absortas e de temerária noção entre o que é realidade e o que era imaginação. Se de todos esses goles ainda me sobrarem vagas recordações do que sonhei, vou buscar num bar, num bolicho qualquer, uma aguardente que me queime e ardam as miseráveis quimeras que herdei de um otimismo congênito, pio de fé, beirando a soberba de quem acredita e espera.
Depois, vagando por uma sarjeta imunda, não vou olhar pra trás. Vou sempre pra frente e pra baixo, lá onde encontro àqueles que ditam o futuro da civilização. Quero falar-lhes de quanto acreditei em tolerância ante a divergência e na ética perante o benefício próprio ou de seu gueto. Não vou contaminar-me de seus hálitos azedos e de suas corruptelas do vernáculo para melhor aproximarem-se dos súditos: vou falar da verdade crua que rasteja nas ruas, pede moedas e vende seu corpo para mantê-lo de pé. Vou falar-lhes das ruas vazias de gritos que não impedem seus atos vândalos com suas bandeiras desfiguradas de partidos encardidos pelo poder. Vou contar-lhes que longe desse lamaçal existe um povo que acredita no que vê e logo esquece, para não morrer de desespero perante filas de empregos e de serviços de saúde. Se me falarem de tráfico e imputarem toda a culpa nele, quero lembrar-lhes da violência incentivada pelos seus filhos: em quartos bem decorados e fortemente protegidos, queimam ácidos e ingerem balas coloridas para esquecerem-se do desprezo e abandono dentro se suas famílias, desde que seus pais resolveram tomar o poder e enchê-los de solidão enriquecida. Nas suas “raves” particulares, varam noites, cheiram tudo, menos um delicado perfume de mulher.
Confesso agora que estive embriagado por muito tempo, não por ócio, não por ódio não por ópio. Estive contaminado de alegria de um país que me prometeu futuro e me regalou frustração por ter acreditado que o medo vinha de cima, sem perceber que ele permeava de todos os lados. Nesse novo porre que agora me entrego, quero aprender a escolher melhor os seus comparsas. Não adianta eleger o sonho, se o pesadelo for o preço. Não adianta escolher uma bandeira se para hasteá-la tenho que erguer um mastro podre, sustentado por trezentos dilúvios, misturando valor e impropério, andando de malas pelos céus, vendendo fé em troca de votos, empilhando vil metal em nome de suas convicções socialmente duvidosas.
Vou entornar um vinho tinto e seco, como as verdades que são contidas. Só vou calar meus pensamentos após o último cálice e então vou naufragar num sonho etílico que vai me afastar das frases utópicas e de um país idílico que sonhei possível. Sim, vou sorver cada gole como se os fatos fossem líquidos e não gasosos como se têm mostrado aos nossos sentidos. Vou ingerir todos os graus que o álcool me permitir para esquecer o que sinto: absinto de ilusões absortas e de temerária noção entre o que é realidade e o que era imaginação. Se de todos esses goles ainda me sobrarem vagas recordações do que sonhei, vou buscar num bar, num bolicho qualquer, uma aguardente que me queime e ardam as miseráveis quimeras que herdei de um otimismo congênito, pio de fé, beirando a soberba de quem acredita e espera.
Depois, vagando por uma sarjeta imunda, não vou olhar pra trás. Vou sempre pra frente e pra baixo, lá onde encontro àqueles que ditam o futuro da civilização. Quero falar-lhes de quanto acreditei em tolerância ante a divergência e na ética perante o benefício próprio ou de seu gueto. Não vou contaminar-me de seus hálitos azedos e de suas corruptelas do vernáculo para melhor aproximarem-se dos súditos: vou falar da verdade crua que rasteja nas ruas, pede moedas e vende seu corpo para mantê-lo de pé. Vou falar-lhes das ruas vazias de gritos que não impedem seus atos vândalos com suas bandeiras desfiguradas de partidos encardidos pelo poder. Vou contar-lhes que longe desse lamaçal existe um povo que acredita no que vê e logo esquece, para não morrer de desespero perante filas de empregos e de serviços de saúde. Se me falarem de tráfico e imputarem toda a culpa nele, quero lembrar-lhes da violência incentivada pelos seus filhos: em quartos bem decorados e fortemente protegidos, queimam ácidos e ingerem balas coloridas para esquecerem-se do desprezo e abandono dentro se suas famílias, desde que seus pais resolveram tomar o poder e enchê-los de solidão enriquecida. Nas suas “raves” particulares, varam noites, cheiram tudo, menos um delicado perfume de mulher.
Confesso agora que estive embriagado por muito tempo, não por ócio, não por ódio não por ópio. Estive contaminado de alegria de um país que me prometeu futuro e me regalou frustração por ter acreditado que o medo vinha de cima, sem perceber que ele permeava de todos os lados. Nesse novo porre que agora me entrego, quero aprender a escolher melhor os seus comparsas. Não adianta eleger o sonho, se o pesadelo for o preço. Não adianta escolher uma bandeira se para hasteá-la tenho que erguer um mastro podre, sustentado por trezentos dilúvios, misturando valor e impropério, andando de malas pelos céus, vendendo fé em troca de votos, empilhando vil metal em nome de suas convicções socialmente duvidosas.
13 comentários:
Parabéns pela página nova.
Meu favorito, sem palavras, acredito que este texto, nascido junto com meu primeiro blog Tremor Intenso, mais ou menos, coinscidentemente expressa meus sentimentos melhor do que eu. Meu favorito.
Abrax
RF
Caro Sílvio,
Agradeço sua visita e a preocupaçao em responder o meu comentário. Confesso que fiquei surpresa com seu comentário sobre o post "Acorda Gigante" lá no Blog da Santa.Primeiro porque considero um dos visitantes cujas opiniões são sempre inteligentes e denota ser uma pessoa de educação erudita.Além de conhecimento político.
Minha reação foi pelo fato de considerar estranho seu depoimento. Deu a entender apoio aos métodos, nada republicanos, do atual governo Lula e o partido dos trabalhadores.
Um forte abraço,
Caro Silvio,
Nem se embriagando dá para aturar, tem que estar para lá de doido, imagina agora aguentar mais 4 anos, que mal fizemos ?
"e ardam as miseráveis quimeras que herdei de um otimismo congênito, pio de fé, beirando a soberba de quem acredita e espera."
Engraçados é que os inteligentes como voce se indignam. Os tolos e os maus se embriagam, mas de prazer.
Quando vai publicar os seus livros?
não deixarei de cobrá-lo sobre isso. Vou ser um pé no seu saco.
Abraços
Silvio, eu também me iludi muito em relação a tantas coisas neste país. Beijos da Ursa
Silvio
aguardando o próximo e imperdível post.
abraços
eu queria uma embriaguez assim perdida, mas sem álcool...
É, Sílvio
É preciso estar sóbrio para fazer escolhas.
Gostei da visita!
Silvio
E o livro? sai quando?
abraços
Greets to the webmaster of this wonderful site! Keep up the good work. Thanks.
»
Belo texto Silvio. Nós, que fomos traídos, estamos hoje na luta para que ele nunca mais exerça um cargo político, nem ele ou qualquer um de seus 'companheiros'. E quem mais vier, muito cuidado - continuaremos vigilantes. O que importa é o nosso país.
Abraços fraternos, Claudia
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