07 abril 2006

A Vênus Roubada - parte I

[Venus, de Botticelli]
Tamoio não fumava, raramente bebia, ria muito e tinha um blog. Não era um blog de cultura erudita, de política de esquerda, direita ou sem rumo. Tamoio, não fumava, raramente bebia, ria muito e tinha um blog onde falava em rimas e contava verdades de uma forma só sua.
Num de seus posts sobre mulheres e desejos, encontrou um comentário original que dizia que mulher por mulher muitas havia, mas entre todas haveria de ter uma que falasse coisas que só outra mulher entenderia. Assinou Eleonor e deixou Tamoio tomado de um calor que lhe fez criar mil posts instantâneos em sua mente para falar sobre essa mulher que Eleonor desenhara.
Passaram-se duas semanas, e não tendo deixado qualquer link possível, Tamoio passou a rimar seus sonhos com melancolia, poesia com saudade e já quase era tarde, quando Eleonor voltou. Ela escrevia com elegância, como se cada palavra fosse numa nova língua, totalmente original, falando de paixão, sedução, lábios e pensamentos incomuns. Dessa vez lincou um blog e deixou uma fresta para Tamoio.
Antes de abrir a porta, Tamoio espiou por tudo, adentrou em cada post, cada seleção de imagens. Havia um mistério entre as linhas, que por mais que seu nome fosse indígena, não encontraria pajé que o decifrasse. Era um blog sofisticado, sem ser petulante, criativo sem ser abusivo ao gosto comum, inebriante como a linda mulher, que aparecia andando numa imagem em movimento ao lado da página: morena, de olhos mel com chocolate, amendoados. Cabelo levemente ondulado, que emolduravam um sorriso enigmático: uma Monalisa digital atualizada, escreveria ele mais tarde em seu blog.
Tamoio entendeu que não era uma mulher que procurasse um homem para completá-la, pois ela era inteiramente especial, mas mesmo assim ousou, entre rimas e tiradas inteligentes convidá-la para um encontro.
Eleonor surpreendeu-se com Tamoio. Homens lhe rodeavam constantemente e a todos era refratária. Já sabia do quê sua libido se nutria e por isso não queria caçoar de si ou de seus desejos. Aceitar o convite para um encontro no Museu da Língua Portuguesa, na Estação da Luz, foi mais para matar a curiosidade do lugar, junto com um poeta que transpirava sorriso e nunca poderia ser inconveniente. Não sabia como encontrá-lo, mas Tamoio, entre original e palhaço, disse que usuaria um cocar, o que não seria nada estranho em se tratando de São Paulo, onde há espaço para todas as tribos.
Ele perguntou de que lado ela viria e ela falou, sem maiores questionamentos. Ele só queria saber, para poder encontrá-la antes, andar atrás dela alguns metros e poder descer seus olhos por aquele corpo que era tão lindo como imaginava...

8 comentários:

+ Kazzx + disse...

Caro Silvio:

Esta Eleonor ainda me mata...

Abçs

Anônimo disse...

Todos os Tamoios imaginam. E sonham com Eleonor. Existirá?
Só você, Sílvio, sabe. Afinal, é um escritor. E, como tal, cria situações, pessoas e mundos.
Eu também faço minhas andanças pelo imaginário, ainda que algo de verdade possa me inspirar. Quanto ao personagem anão, de meu conto, é baseado em alguém que existe. E é amargo e triste. E solitário. O resto é criação de minha mente que ama criar situações.

Anônimo disse...

Querido Sílvio,
nunca li nada do Caio. Tb não tinha noção de que Morangos Mofados era dele... mas, não li tanta gente boa! Por mais que se leia, ainda falta quase tudo. Qto ao meu blog, Plenos Amores não cobriria meus contos como O Gato, Colcha de Retalhos, O Conserto, Sapatos Vermelhos, etc. Tenho muita coisa escrita numa linha um tanto perversa...rss
É claro que às vezes posto uns relatos mais amorosos: há dias em que estou neste clima. Mas agradeço sua sugestão. Quem sabe não sigo seu exemplo e crio mais um ou dois blogs?
Beijos

Rosario Andrade disse...

Querido Silvio,
os seus mini-contos sao pura inspiracao. Perfeitos. Muita gente precisa de tantas palavras para transmitir sentimentos. Mas as suas palavras encaixam tao bem umas nas outras que condensam o espaco e oferecem aos leitores ramalhetes de expressoes.
Bonito mesmo.
Bjico!

Anônimo disse...

Lindo caminhar por entre nossas fantasias e pensamentos, e lindo encontrar e reencontrar nossos platonicos amores por entre sonhos e remeximentos pensamentais. Masturba'cao mental e emocional a mil! Bendita intensidade :-)

Jean Scharlau disse...

O amor é l'índio...

lena disse...

encanto-me nestes contos
os meus olhos é que sorriem

beijinhos para ti meu amigo

lena

Moita disse...

Silvio

Eleonor ainda vai me matar de paixão. Desculpe mais ainda estou doente. Desloquei uma vertebra quando o cavalo caiu comigo. Não consigo sentar por muito tempo, especialmente em frente ao Pc.
Um Braço