17 março 2006

Eleonor

Volto a trazer-lhes Eleonor, que frequentou esse blog no início, bem como na Toca da Santa, cantinho mágico do Blog da Santa.

O que seduzia em Eleonor não era a sua voz aveludada ou seu cruzar de pernas, que invariavelmente era em câmera lenta, quadro a quadro. Era algo mágico, um élan, um mistério.
Quando ela sorria, trazia ao ambiente a expectativa de sua graça. Um lampejo de seus dentes parava a cena e ficavam todos na ansiedade do que vem depois, um artilheiro frente ao gol pronto para marcar.
Eleonor era gentil, mas trazia em si a aura dos pedestais. A todos distribuía atenção e de todos merecia o desejo de servi-la.
Não, Eleonor não era aquele mulherão de revista. Era a proporção certa entre o real e o intocável. Uma delicadeza equilibrada sobre pernas bem torneadas. Seu quadril era o arcabouço de boas carnes, mas não ofuscava os contornos do conjunto. Seus seios, rijos e definidos mereciam seus decotes. Talvez fosse a magia de seus cabelos, levemente ondulados, com balanço suave como se tivesse recém saído do cabeleireiro.
Tinha olhos de um mel com chocolate, doces, hipnóticos e amendoados. Quando naturalmente piscavam eram cortinas que baixavam para novamente trazê-los ao palco e receber bis. Sua pele bronzeada em qualquer estação era de um veludo macio, um pêssego maduro a espera da primeira mordida.
Porém, de todos os seus atributos, nenhum competia com a sensibilidade e a energia que emanava em qualquer conversa, quando a sinergia que lhe transbordava delatava sua inteligência. Seu carisma atraía ouvidos, olhos e o silêncio que precede as vozes de quem nasceu para ser seguido.
Assim era Eleonor, cheia de luz, cheia de suspense. As mulheres da faculdade lhe prestavam total apreço e, em alguns casos, olhares de encantamento. Nunca foi de ser escolhida e, por isso, fazia suas opções.
Parava o trânsito literalmente. Na rua, nos corredores, homens quase ensandecidos a viam flutuar entre todas. Mulheres não se sentiam ameaçadas e procuravam estar sempre por perto para aparar os remanescentes.
Anos atrás, era menina e com outras brincava. De tanto gostar de Jade, por ela se encantou. Não sabia muito bem o que era e no que daria, mas sonhou noites inteiras tendo Jade em abraços até acordar-se em sobressalto ao beijá-la. Jade não se confirmou, como outras tantas que passaram, mas nem por isso se abalou. Entendeu perfeitamente quanto especial era e porque isso a só ela interessava.
Enquanto os homens, seus olhos perdiam-se nas suas formas e seus ouvidos embebiam-se em sua cândida e suave respiração, Eleonor vagava imune a tudo. Sabia dos suspiros e das fantasias que despertava, mas o que ninguém sabia era o que dentro de Eleonor a fazia vibrar. O fato de ser lésbica, não vinha ao caso e por isso não revelava.

13 comentários:

Anônimo disse...

Meu amigo, fiquei sem palavras! Te digo que me surpreendeste; fui lendo, lendo, lendo.. lendo e me deliciando! Afe, até me senti meio.. hehe. LINDO!!!! Muito sensível e de um estilo bem diferente das coisas (tuas) que li até agora. Tá ficando "gente grande" este meu amigo poeta! Não suspeitei que fosse teu até chegar ao fim. MUITO BOM!!!!

Anônimo disse...

Silvio, estou viciando nesses contos, me inspiram demais! Os ultimos blogs novos que tenho conhecido suportam conteudo politico demais, e a arte simples acaba indo pras cucuias. Esta realmente saborosissimo este texto... Digo o que disseram certa vez de um texto que possuia caracteristicas similares aos teus... Como neste, texto fisico, sensual, sentido nos cinco (seis?) sentidos. A la Rilke, Silvio. Parabens!

+ Kazzx + disse...

Caro Silvio,

Que bela quebrada você me deu hein?, eu já estava ficando apaixonada pela Eleonor....sem chanche mesmo???

Abçs

Marcos

Anônimo disse...

Pois e, Silvio, mas sabe que nem cerveja tomavamos? Hehe Tenho a grande sorte de viver em relativa esbanjadora sinceridade entre amigos e colegas. Fortuna, fortuna :P

Anônimo disse...

Sílvio, o blog está com problemas (não sei até quando). Usarei o blog assistente TOCA DA SANTA, por onde dá acesso.
Bjs
http://tocadasanta.blogspot.com/

Santa disse...

Você é que especial e a literatua que constrói nos ensina o poder mágico das letras. Gosto muito deste texto, penso que é um dos meus preferidos!!!

Bjs

Depois de mais um susto, Santa voltou.Teve ajuda técnica da Star. Perdi todos os meus links. Vou recuperá-los, um a um...

Lata Mágica Recife disse...

Grande amigo poeta e incentivador da Lata,

Estamos com nova exposição de fotografias no blog da lata "Do Rústico ao Moderno". Vá lá, vc e todos os nossos amigos do blog!!!

Débora Linden Hübner disse...

Oi Sílvio!

Adoro a poesia de teus contos.
Faz o leitor "entrar no embalo", "viver a história"...

Ótimo texto!

Bj

Anônimo disse...

Hola Silvio, Zenia desde:

http://imaginados.blogia.com

¡Hermoso¡ He colocado fotos de fiesta.... ja ja

Caiê disse...

Curiosamente, fez-me lembrar alguém que conheço. Fizeste um vivo retrato! :)

Angela Ursa disse...

Oi, Sílvio! Seus textos sempre surpreendem. O final deste conto também. Beijos da Ursa

Anônimo disse...

Sílvio, Sílvio! Que coisa mais poética e delicada! Vc tem uma alma muito linda, meu amigo. Adoro vir aqui porque sua maneira de tratar e retratar as pessoas é ímpar. Parabens, mesmo!
Fui visitar o blog da Alice, como recomendou. Muito lindo, tb. Mas não o achei semelhante ao meu pq sou mais cínica no que escrevo, mais transgressora, creio. Alice é mais gentil com seus personagens, sou mais "malvada"...rss... não acha? De qualquer forma, aquele é um espaço que visitarei com frequência. Vale muito a pena.
Um beijo, meu lindo

Moita disse...

Silvio

Narrativa digna de José de Alencar.
Meus parabéns.

Agora, já estava encantado pela moça e lá vem voce e me dá um trmendo "contra-vapor" no final da narrativa! Pô Cara! Fiquei todo doído.
abs