A cama lhe parecia imensa, às quatro horas de uma noite insone. Seus olhos lhe ardiam, embora as lágrimas já tivessem secado no travesseiro. Jurava que ainda sentia o calor dele ao seu lado, seu cheiro nos lençóis. Custava-lhe acreditar que fazia seis dias que ele morrera, com seu corpo dilacerado entre as ferragens do carro desfeito nas rochas, deixando-a com o peso das horas sobre seu corpo ainda jovem. Custava-lhe crer que deveria cuidar de seu filho sozinha, porque Gustavo nunca mais voltaria. Quando amanhecesse, já seria sete dias de ausência, sem sono completo, dor de cabeça constante.
Juliano dormira cansado de chorar, um choro sentido que lhe tirava da angústia de sua própria dor, essa mesma dor que ela calava o peito e lhe apertava a garganta e lhe enjoava o estômago e lhe trazia à tona mais e mais lembranças que volta e meia culminavam por senti-lo dentro dela, como se o gozo se estendesse mesmo após sua morte.
Suzana virava na cama, olhava pela janela e longe via o mar, que continuava lá, porém cinzento, sem brilho, sem ruídos. O que ouvia era o sono intranqüilo do filho pequeno, pouco mais de três anos de idade, que cresceria sem pai, aquele homem que brincava com todos. Conhecera ali mesmo, a poucas quadras, na baía norte, que margeava Flonianópolis e nunca mais serviria para as caminhadas de mãos dadas ao fim da tarde.
Gustavo, Gustavo...
Da cama via o barbeador sobre a pia do banheiro... Era como se ele viesse envolto na toalha e se despisse sobre ela para amá-la na madrugada, custando-lhe engolir os gemidos que poderiam acordar Juliano que dormiria no quarto ao lado.
Juliano dormira cansado de chorar, um choro sentido que lhe tirava da angústia de sua própria dor, essa mesma dor que ela calava o peito e lhe apertava a garganta e lhe enjoava o estômago e lhe trazia à tona mais e mais lembranças que volta e meia culminavam por senti-lo dentro dela, como se o gozo se estendesse mesmo após sua morte.
Suzana virava na cama, olhava pela janela e longe via o mar, que continuava lá, porém cinzento, sem brilho, sem ruídos. O que ouvia era o sono intranqüilo do filho pequeno, pouco mais de três anos de idade, que cresceria sem pai, aquele homem que brincava com todos. Conhecera ali mesmo, a poucas quadras, na baía norte, que margeava Flonianópolis e nunca mais serviria para as caminhadas de mãos dadas ao fim da tarde.
Gustavo, Gustavo...
Da cama via o barbeador sobre a pia do banheiro... Era como se ele viesse envolto na toalha e se despisse sobre ela para amá-la na madrugada, custando-lhe engolir os gemidos que poderiam acordar Juliano que dormiria no quarto ao lado.
7 comentários:
Custa muito, é certo, criar um filho sozinha. Mas é mais penoso ainda, julgo eu, criá-lo junto de quem não nos quer mais e nem quer o filhote.
:)
Silvio
Belissimo texto, como sempre.
Especialmente, bem escrito.
Mas Oh! que saudade da Eleonor.
Abraços
Ai, Silvio... Pegou na veia. Agrade'co os arrepios e as lembran'cas que me causaste :-)
RF
Lendo seu comentario la no sitio, deixei resposta que considero particularmente pertinente, e se rimou e porque e verdade.
Forte abrax!
RF
Caro Silvio,
Triste, seco , sensivel e real...me agrada...parabéns
Abçs
Triste demais,cara. Chega a arrepiar. No aguardo da continuação. Abraços.
Que hermoso texto, corto pero intenso, y muy bien descrita esa sensación de insonnio doloroso...Beijos Silvio
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