Você, em sua casa, tal qual um nobre em seu castelo, se cerca de grades, alarmes e trancas. Quer deixar de fora o que lhe afronta, o que lhe amedronta, o que lhe tira o sono. No seu bairro, ajardinado e limpo, desconfia de todos que nele cruzam, até do gari que ali trabalha e do catador que “limpa” o seu lixo.
O Brasil vasculha, em porões de navios que passaram pela África, os desterrados de hoje e encontra, em galpões imundos, pobres bolivianos e paraguaios, trancafiados feito bichos, presos a dívidas, sem documentos e sem honra, trabalhando para seus donos por um prato imundo de comida.
Na fronteira entre os ricos do norte e os miseráveis do sul, como uma arquibancada prestes a ruir, hordas anônimas esperam o momento de invadir o “american way fo live”. Pelos rios, desertos e pelo mar, em barcos, caminhões ou qualquer coisa que flutue, latinos invadem o reino do Tio Sam, para trabalhar por algumas verdinhas indecentes, em serviços que os próprios americanos se recusam a operar.
Na Europa, penitenciárias em aeroportos na Holanda e hotéis na França, ardem com carvão humano, em fogueiras nazistas. Povos vindos da África para servir a nobreza mofada, ou vindos da velha cortina enferrujada, fugindo da falência de um sonho comunista.
E você, através do olho mágico de sua porta trancafiada por ferrolhos e aparatos eletrônicos, se julga protegido. Vã ilusão...
Entre Aids, guerrilhas, porões e galpões, a miséria se multiplica sem que ninguém faça nada e mais cedo ou mais tarde, não haverá fronteiras. Em busca da água, alimento e de um futuro digno, tudo ruirá. Se ficarmos assistindo, ignorantes em nossos castelos de areia, assistiremos a queda dessa civilização do medo, onde a escravidão só mudou de ares; onde milhões de pessoas se submetem a uma vida miserável, enquanto uma minoria engorda, de tanto comer o que não digere, para depois gastar seu dinheiro para restaurar a falácia juvenil que vende cosméticos, dietéticos e cirurgias milagrosas que não corrige a flacidez de suas almas.
28 outubro 2005
Fronteiras da Miséria
contado por SV às 07:50
Assinar:
Postar comentários (Atom)
16 comentários:
Me encanta leer en portugués lo mismo que yo -si bien con giros distintos- escribo en castellano. Eso quiere decir que somos más de lo que parece, los que estamos en la brecha denunciando injusticias y luchando por un mundo distinto, bello, libre, equitativo, justo y fraterno. ¡Adelante! ¡Lo vamos a conseguir!
¡Feliz fin de semana y salud, paz y amor para tod@s!
Hannah
Silvio,
Eu (infelizmente) não sou o Carrasco.
A mim também doeu sua desistência.
Abraços,
Guilhotina
É tudo verdade, a que eu acrescento que pioramos, porque há cada vez mais estímulos à individualidade e ao isolamento, exceto o virtual, onde nos comunicamos e que estimula mais variedade e amplitude, mas as distâncias pessoais tendem a ficar cada vez maiores. Será?
Ah, e por acaso achei este cara que pesquisou a família Vasconcellos
http://www.menegatto.com.br
O que vemos hoje, via digital, são pessoas falando mais abertamente de seus sentimentos, protegidos pelo anonimato fisionômico. Assim, falamos de sentimentos a pessoas que trocamos mensagens sem nunca ter articulado tais palavras a outras muito mais próximas.
O medo e a angústia do ruído na porta, alarmes, sirenes nos fazem parar atrás da porta e espiar pelo olho mágico, na vã esperança de encontrar um igual, ou pelo menos, não encontrar nossos pesadelos neuróticos, cada vez mais próximos. Pronto, pirei...
Sílvio, que produção! Você não é só um escritor e poeta, é uma fábrica de letras :)))
Hola Silvio, que bonito nombre. Quería agradecerte tu visita a mi blog. Yo sinceramente, como se la lengua gallega que es muy parecida a la portuguesa espero poder leerte sin dificultad. Y además será todo un reto para conocer otro idioma. Un abrazo
Silvio, ya tengo tema para mi próximo tema de viajes, será el Sur de Brasil. Después de Marrakech, Islandia y Rumania, me toca cruzar el charco. Un abrazo y gracias por tu idea.
Sílvio, eu sou apaixonada por literatura,adoro os seus posts mas sou zero a esquerda em informática. Percebi que o link está errado lá no meu blog. tenho que pedir socorro a Santa...:))))
Beijos (parabéns pelos olhinhos da filha!!!)
Sílvio, acho que uma forma, mesmo pequena, de lidar com toda essa situação é não deixar de protestar, denunciar, fazer o que for possível para não se deixar aprisionar totalmente. Abraços!
Ora, moras em Nói Râmbui, então! Fiz o Liberato e morei aí, no bairro Primavera, parte antiga. Aí também tem Feira do Livro. Um abraço!
Sílvio recebi a visita de Petrusco e já retribui. Espero que a altura de tuas recomendações. Um beijo.
Querido Silvio,
Obrigada pela visitinha ao I&I, fiquei assim a conhecer o seu blog, uma beleza! Por isso vou voltar...
Respondendo a sua pergunta, o Mirandés é a segunda lingua oficial de Portugal. No entanto, é apenas falada por uma pequena minoria no norte do pais, a regiao de onde eu provenho. Se quiser um pouco mais de informacao leia este meu post:
http://impressoeseintimidades.blogspot.com/2005/09/eilhes-tornn-in-mirands.html
Espero que continue a visitar-me. Eu vou visitá-lo com toda a certaza!
Abracicos!
Caro escritor,
Queremos agradecer a visita e dizer que estamos contando histórias da Lata. Apareça lá. Um abraço.
Olá!
Puxa, você escreve muito bem!! Me permite ler todo o histórico??
Obrigado pela visita, voltarie aqui mais vezes com certeza!
intiresno muito, obrigado
Postar um comentário