- Oswaldo, és tu?
- Sim, Carolina, sou eu...
- Que saudades, Oswaldo...
- Não fales muito, descanses.
- Preciso falar, Oswaldo. Tenho tanto a te dizer.
- Mas tu precisas repousar.
- Oswaldo, sempre te amei.
- Carolina...
- Não fales nada, Oswaldo. Eu não queria ter te deixado...
- Mas...
- Naquela noite, ao final do baile, quando meu pai nos pegou...
- Carolina...
- Preciso falar, por favor. Naquela noite eu não devia ter aceitado que ele me mandasse para tão longe. Eu fui sofrendo, pensando em ti o tempo todo...
- Mas Carolina, querida...
- Nada mais na minha vida importou. Eu queria ter voltado, te abraçado, ter tido filhos contigo, viver minha vida toda ao teu lado...
- Carolina, tu voltaste... Nós casamos, tivemos filhos, netos, até dois bisnetos, que levam teu nome e o meu.
- Não pode ser...
- Assim foi.
- Não lembro de nada, só que te amava muito.
- Assim ainda é, querida. Nós vivemos juntos todos esses anos.
- É?
- Sim, querida.
- E o Duarte?
- Que Duarte?
- Do seu Timóteo, da padaria. Eu não casei com ele?
- Com o prefeito?
- Não sei, só lembro de estar com ele no depósito.
- Carolina?
- Noites e noites... Será que sonhei?
- Ele está ali na sala, esperando para te ver...
- Ah, o Duarte...
- Mas Carolina, e eu? E nosso amor?
- Nosso amor deve ter sido maravilhoso, querido, mas o Duarte... Ai, ai, com Duarte era uma coisa de carne, entende?... Oswaldo, onde eu estive?
- Faz anos que tu tens estado ausente, sem reconhecer ninguém. Pelo visto agora estás te lembrando mais do que na vida toda lembrou de mim!
- E a Selma?
- Tua prima?
- Sim. Tenho saudades dela...
- Ela morreu há mais de trinta anos.
- É? Que pena... Mas nós aproveitamos...
- Garanto que até ela sabia... Tua maior amiga... Meu Deus, Carolina... Eu era corno por tanto tempo?
- Dormíamos junto tantas vezes...
- O quê? Com a Selma?... Na infância, suponho...
- Que nada! A gente se beijava, experimentava tudo... Lembro e me arrepio até agora... Aquelas tardes na praia, os cursos que inventávamos... Ah, a viagem à Europa que tu nos deste...
- O que? Carolina, tu não estás bem. Acho que eu também não estou muito bem. Preciso de ar... E tu descanses, Carolina, tu estás tendo alucinações. Deves estar cansada demais...
- Meu corpo pode estar se indo, mas de repente tudo está claro como se fosse um filme em tecnicolor...
- De ficção, espero.
- Não, Oswaldo...
- Mas a gente viveu juntos tanto tempo e eu nunca pensei que...
- Oswaldo, querido. Todos temos nossos segredos. Tu mesmo...
- Eu o quê?
- Sim, eu te vi e sofri muito.
- Como assim?
- Com a Dulce.
- Tua irmã?
- Sim. E madrinha de nossa filha mais velha... Ah, e com a Dorotéia.
- A empregada... Como tu sabias e nunca me falou nada. Por quê?
- Oswaldo, Oswaldo... Não me peças respostas agora. E teve mais...
- Me perdoe, me perdoe!
- Já te perdoei a tempo e da melhor forma possível.
- Carolina, tu não queres descansar?
- Lembras do Adolfo?
- Que Adolfo?
- O Adolfinho.
- O filho de minha irmã, meu afilhado?
- Sim.
- Não me diga que...
- Aham.
- Carolina??
- Ah, Oswaldo, nós fomos tão felizes...
- Carolina, tu vais descansar agora, por bem ou por mal!
3 comentários:
pai! tá eu não li tudo! mas tenho certeza que está ótimo como todos os outros que tu me conta e eu leio. :)
ahhh! e a foto me lembro o carinha que fez o pinóquio, hahahahahahaha!
beijos queridão
Texto ótimo! Ilustra muito bem o fato de por mais intimidade que pensamos ter com as pessoas, na verdade elas são como nós, cheios de segredos que não ousamos revelar. Esta é a nossa vida de carne e osso.
Parabéns!
Poxa muito bom mesmo, eu amei..estou fazendo um trabalho sobre isso e esse conto irá me audar muito...
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